Cozinhando
com Palavras, um evento gastronômico-cultural dentro da Bienal do Livro
2012. Programação eclética e deliciosa; uma pena que eu tive apenas uma única oportunidade para
acompanhar.
Passei por lá no dia 16 de agosto para assistir um sarau "gastonomo-musical-literário": Na Cozinha com Jorge Amado, com a presença da filha Paloma Amado, da cantora
Giselle Tigre e da chef Morena Leite, do restaurante Capim Santo, preparando ao vivo uma moqueca de
aratu (cuja degustação foi sorteada para alguns felizardos da platéia).
André Boccato esteve no papel de curador e mestre de cerimônias.
Paloma
falou os hábitos e preferências gastronômicas do pai baiano ("que não cozinhava um ovo") e da mãe
descendente de italianos. Contou que a avó italiana, mãe de Zélia Gattai, era anarquista e recusava-se a cozinhar. O avô, amante da boa comida, fez com que as filhas a aprendessem as artes da cozinha, alegando que "genro meu não vai passar o que eu passo".
Contou ainda o "causo" de um tio médico, irmão
de Jorge Amado, que morava em São Paulo há décadas e foi passar uma breve
temporada na casa deles no Rio Vermelho, em Salvador. Chegou com um discurso de que comeria à vontade, já que havia descoberto que aquilo que relamente engordava os seres humanos era a culpa, e não a comida. Em oito dias de cozinha baiana "em
quantidade" o doutor engordou oito quilos – um por dia! Um verdadeiro "super size me" do recôncavo. Na trilha sonora, Giselle Tigre cantando clássicos da MPB com temas culinários. Entre eles "Vatapá" de Dorival Caymmi, que motivou a discussão sobre ou uso ou não de fubá no preparo desse prato típico da Bahia. No vídeo abaixo, a música cantada por Thalma de Freitas, em cena da minissérie "Dona Flor e seus dois maridos" (Rede Globo, 1997)
Vatapá – gravação original de 1943 Letra e música de Dorival Caymmi
Quem quiser vatapá, ô Que procure fazer Primeiro o fubá Depois o dendê Procure uma nêga baiana, ô Que saiba mexer Que saiba mexer Que saiba mexer Procure uma nêga baiana, ô Que saiba mexer Que saiba mexer Que saiba mexer
Bota castanha de caju Um bocadinho mais Pimenta malagueta Um bocadinho mais Bota castanha de caju Um bocadinho mais Pimenta malagueta Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco Na hora de machucar Sal com gengibre e cebola, iaiá Na hora de temperar
Não para de mexer, ô Que é pra não embolar Panela no fogo Não deixa queimar Com qualquer dez mil réis e uma nêga ô Se faz um vatapá Se faz um vatapá Que bom vatapá
A
cozinha do festejado Xapuri, no domingo, pouco antes do meio dia. Dá
para ver que o fogão a lenha é quase decorativo, funcionando como um
"rechaud" para as comidas prontas e completando a defumação das
linguiças. Os cavalos de batalha são mesmo fogões industriais a gás,
capazes de dar conta do enorme movimento da casa que, ao contrário da maioria dos restaurantes de "comida mineira", atende por sistema a la carte.
Abrindo
os serviços no Xapuri: bolinho de mandioca recheado com muzzarella,
cerveja e duas Vale Verde para limpar a serpentina. Sequinhos, tenros e
gostosos, mas sem grandes novidades no sabor.
Secondi
piatti: frigideira de giló com queijo de minas, com os indefectíveis
torresmos a servir de contorni. Muito bom, mas é só para quem gosta de
giló. Torresmos muito corretos, bem pururucados e no ponto preciso para fazer companhia à cerveja geladinha.
Pièce
de résistance: costelinha de porco frita, com couve, feijão tropeiro,
arroz branco e mandioca. À direita, uma concessnao para aos comensais
menos chegados à cozinha criminosa das Geraes: filé com legumes
salteados e banana frita, arroz e feijão.
Comentários:
a couve e o feijão tropeiro estavam muito bons, mas a mandioca e a
costela deixaram a desejar, tanto na consistência como no sabor. Já comi
bem melhores tanto lá em Uberaba como aqui em São Paulo, no Consulado
Mineiro. O filé com legumes estava melhor que a costela, mas o
feijão – embora saboroso – não tem gosto de feijão "de fazenda". Desconfio
que eles dispensam a banha e o toicinho defumado para não afugentar os
vegetarianos
Pesadelo
dos diabéticos, os doces e compotas têm direito a uma cozinha à parte
no Xapuri, com fogão a lenha e tachões de cobre. A mesa de sobremesas é
"self service", com cobrança por peso. Eu encarei a ambrosia (divina) e
misturei doce de cidra ralada com doce de leite, um velho costume
uberabense.
Abaixo, a lojinha de doces, cachaças e peças decorativas de Minas Gerais no Xapuri. Tudo muito bonito, mas com preços para turista gringo. Vale mais a pena gastar seu dinheiro no Mercadão